Sensível demais




Cheguei a casa
E em cima da mesa não havia nada…
Despi o casaco, larguei a mala
Libertei os sapatos
E agarrei apressadamente o avental
Que me esperava para mais uma viagem…

Sem forças debrucei-me sobre o fogão
Que me incendiou os pensamentos
Nas inflamáveis lágrimas que abafo dentro de mim,
Porque sou feia quando choro,
Porque sou fraca quando choro,
Porque não posso chorar…

Tentei, sempre, alimentar a alegria dos mais novos
Fui contando piadas
E fazendo perguntas
Ganhando um pouco de forças
na fraqueza que me circunda…
Enquanto lavava alimentos
Vinham à tona da minha água meus sentimentos
E a cada corte frio numa cebola
Os meus olhos gananciosos, aproveitavam estes momentos para chorarem
E derramarem as dores que os agoniam
Para contarem em silêncio o que os esvaziam…

Os aromas invadiam a cozinha
E a mim, aquele frio (disfarçado);

E entre tanta coisa que lá tinha
Eu encontrava-me tão perdida de sozinha…
Mas, meu olhar… calado…

Juntei tudo numa panela
Mágoas, tristeza…
Limão…
Fiz rapidamente
A refeição
Que alimentaria
As minhas vidas
Mas, a mim não…

Estava como sempre estive:
Sem sal,
Sem açúcar,
Sem vitaminas
Coberta de pensamentos ingratos
Que me obrigam a derramar lágrimas pelos pratos
E,que eu afirmo,serem gotas de água para limpar
minha voz que pronuncia palavras de incentivo, 
de motivação...

Mas como?
Se os gritos do meu coração
Dizem-me apenas que sobrevivo
Para garantir a vida dos que amo e venero...
Mas,morro,morro porque espero
Coisas que talvez nunca terei;
Porque sou sensível demais;
Porque sou a mais;
Porque quem fui não mais serei…




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